Câmara aprova super reparcelamento do FAPS por margem mínima e ignora alertas técnicos dos servidores
- William Barreto

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Projeto que alonga dívida previdenciária por 25 anos passa por 8 votos a 7, rejeita emenda de salvaguardas e aprofunda embate político, técnico e social em Cachoeira do Sul

A Câmara de Vereadores de Cachoeira do Sul aprovou, na tarde desta segunda-feira (15), por oito votos a sete, o Projeto de Lei nº 113/2025, que autoriza o chamado super reparcelamento da dívida previdenciária do Município com o Fundo de Aposentadoria e Pensão dos Servidores (FAPS). A votação foi marcada por forte resistência dos sindicatos, protestos no plenário e críticas recorrentes à ausência de base atuarial atualizada que demonstrasse os impactos financeiros de longo prazo da medida.
Encaminhado pelo Poder Executivo, o projeto permite o reparcelamento dos débitos previdenciários em até 300 parcelas, equivalentes a 25 anos, com atualização pelo IPCA-E, juros de 0,5% ao mês e garantia de pagamento por meio de retenção direta no Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A proposta foi defendida pelo governo como alternativa emergencial para reorganizar o caixa municipal e conter o avanço do desequilíbrio previdenciário.
Segundo informações apresentadas durante a tramitação, o déficit atuarial do FAPS ultrapassa R$ 1 bilhão, dado que orientou o debate e ampliou a preocupação de servidores ativos e aposentados quanto à sustentabilidade do fundo.
Emenda de proteção ao fundo é rejeitada
Durante a sessão, a vereadora Ana Paula Melo (Progressistas) apresentou uma emenda aditiva que buscava estabelecer salvaguardas mínimas ao reparcelamento. Entre os pontos previstos estavam aporte financeiro mensal obrigatório de R$ 500 mil ao FAPS, exigência de cálculo atuarial independente e atualizado, criação de gatilhos automáticos de suspensão do acordo em caso de desequilíbrio financeiro e ampliação das regras de transparência.
A emenda foi rejeitada pelo mesmo placar do projeto principal — 8 votos contrários e 7 favoráveis — reforçando, para os sindicatos, a avaliação de que o Legislativo optou por aprovar o alongamento da dívida sem contrapartidas efetivas de proteção previdenciária.
Críticas sindicais e temor de colapso financeiro
Representantes do sindicatos acompanharam a votação no plenário e, após o resultado, o Siprom realizou manifestação de protesto. O tom predominante foi de alerta para o risco de inviabilização do fundo e para a possibilidade de parcelamento futuro de salários e aposentadorias.
O servidor do Legislativo Charles Massirer apontou a ausência de critérios técnicos como o principal problema do projeto.

“O principal ponto de discordância é a ausência de cálculo atuarial, de impacto financeiro e da certeza de que isso pode dar certo. Há apenas um apalavramento político, não uma garantia de que o fundo e os servidores serão preservados”, afirmou.
A presidente do SIPROM, Josie Rosa, alertou para o impacto imediato do reparcelamento sobre o caixa do fundo.
“No primeiro mês o FAPS já ficará negativo em mais de um milhão de reais. Se o fundo quebrar, a folha dos aposentados vai para o caixa livre da prefeitura, e aí não haverá dinheiro nem para salários nem para serviços essenciais da cidade”, disse.
O advogado do SIMCASUL, Kader Saleh, classificou o projeto como financeiramente insustentável.

“Esse projeto não resolve o problema previdenciário. Ele vai quebrar o FAPS, retirar mais de R$ 20 milhões por ano do fundo e não criar nenhuma nova fonte de receita. É uma proposta voltada apenas a fazer caixa para o Município”, declarou.
Avaliação técnica do Sinserlegis
A presidente do Sindicato dos Servidores do Legislativo Municipal (Sinserlegis), Tainara Aued, apresentou uma análise institucional de caráter técnico, reforçando as críticas quanto à ausência de estudos atuariais.
“Nenhuma deliberação sobre o FAPS deveria ocorrer sem cálculo atuarial atualizado. Em um fundo já deficitário, reduzir aportes abaixo do necessário aprofunda o desequilíbrio e acelera a deterioração financeira”, afirmou.
Segundo Tainara, a diluição da dívida em 300 parcelas compromete a estrutura financeira do regime previdenciário.
“A queda imediata no aporte mensal faz com que as receitas correntes fiquem abaixo das despesas. Em um fundo com déficit superior a um bilhão de reais, isso agrava a instabilidade e amplia o risco de insolvência a médio prazo”, avaliou.
A presidente também criticou a redução dos juros e a ausência de multa moratória.
“A legislação municipal prevê juros de 1% ao mês. Reduzir esse percentual significa renunciar a receitas essenciais. Sem garantias legais robustas e sem cálculo atuarial, o risco permanece elevado”, concluiu.
Defesa do governo e embates no plenário
Entre os vereadores favoráveis ao projeto, prevaleceu o discurso de confiança no Executivo. O vereador Alex Gonçalves (Republicanos) afirmou que o voto representou um gesto de responsabilidade política.

“Ninguém vota a favor acreditando que não vai funcionar. Se votei favorável, é porque acredito que vai funcionar, com os aportes prometidos e com outras medidas que ainda precisam ser implementadas”, disse.
O líder do governo na Câmara, Sérgio Quoos (PSDB), teve sua fala interrompida por manifestações da plateia. Em tom crítico, questionou a atuação de gestões anteriores e afirmou:

“Vamos falar sério aqui. Ninguém está deixando de honrar a previdência de todos”.
Diante das interrupções, encerrou seu pronunciamento afirmando que “a democracia aqui sangrou”.
Como votaram os vereadores
Votos favoráveis ao Projeto de Lei nº 113/2025 (8):
Alex Jones de Matos Gonçalves (Republicanos)
Alvaro Santos Borges (Podemos)
Daniela Denise Santos da Rosa (PL)
Edimar da Silva Garcia (PL)
Juliana Spolidoro (PSDB)
Ricardo Morais Machado (PSDB)
Sérgio Adriano dos Santos Quoos (PSDB)
Votos contrários (7):
Adriana Barros Palladino (MDB)
Ana Paula Melo de Moraes (Progressistas)
Felipe Alves Faller (Republicanos)
Gilmar Dutra Vieira (Republicanos)
Jeremias Madeira Oliveira (PL)
Mariana Silva Carlos (PT)
Ryan dos Santos Rosa (PT)
Próximos passos
Com a aprovação, o projeto segue para sanção do prefeito Leandro Balardin. O Siprom informou que deve avaliar ainda medidas administrativas para contestar a Lei e acompanhar sua execução.
A votação apertada, a rejeição de salvaguardas técnicas e o confronto no plenário indicam que a previdência municipal seguirá no centro do debate político e fiscal de Cachoeira do Sul, com efeitos que se estendem para além da atual legislatura.













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