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Rio Grande do Sul mantém liderança em taxas de HIV e Aids; estigma e desinformação seguem como entraves, aponta infectologista

  • Writer: William Barreto
    William Barreto
  • 5 days ago
  • 3 min read

Estado registra prevalência superior a 1% na Região Metropolitana de Porto Alegre e enfrenta desafios persistentes na prevenção, diagnóstico e adesão ao tratamento


Rio Grande do Sul lidera ranking de mortalidade por AIDS, com taxa 6x acima da nacional. Canoas (1º) e Porto Alegre (2º) estão no topo.
Rio Grande do Sul lidera ranking de mortalidade por AIDS, com taxa 6x acima da nacional. Canoas (1º) e Porto Alegre (2º) estão no topo.

O Rio Grande do Sul permanece entre os estados com maiores taxas de HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana, que ataca o sistema imunológico) e Aids (Síndrome causada pelo HIV, caracterizada por infecções e doenças oportunistas) no país, apesar da ampla rede de saúde e do histórico de ações preventivas. Dados do Boletim Epidemiológico de 2024 indicam que o cenário exige atenção contínua das autoridades sanitárias e da sociedade civil.


Em entrevista, a infectologista Ana Flor Hexel Cornely afirmou que o quadro gaúcho decorre de uma combinação de fatores sociais, culturais e educacionais. A especialista destaca que a Região Metropolitana de Porto Alegre apresenta prevalência de HIV superior a 1%, caracterizando uma epidemia generalizada, com transmissão sustentada em toda a população.


“O estigma e o preconceito ainda são fortes na sociedade, o que afasta muitos indivíduos dos serviços de saúde e das estratégias preventivas, resultando em diagnósticos tardios e maior mortalidade”, afirmou.


Porto Alegre registrou 14,1 óbitos por 100 mil habitantes; o Rio Grande do Sul, 6,3. A média nacional foi de 3,9. Crédito: Boletim Epidemiológico Dez/2024 – Ministério da Saúde.
Porto Alegre registrou 14,1 óbitos por 100 mil habitantes; o Rio Grande do Sul, 6,3. A média nacional foi de 3,9. Crédito: Boletim Epidemiológico Dez/2024 – Ministério da Saúde.

Porto Alegre concentra maior taxa de gestantes vivendo com HIV


A capital gaúcha apresenta a maior taxa de gestantes HIV positivas do país. Segundo a infectologista, o índice reflete a própria prevalência da infecção na população geral: “Se há mais pessoas vivendo com HIV, naturalmente haverá mais gestantes nessa condição.”


O boletim revela que apenas 70,4% das gestantes HIV positivas utilizam terapia antirretroviral durante o pré-natal. A adesão ao tratamento enfrenta barreiras psicossociais, biológicas e estruturais, como depressão, uso de substâncias, comorbidades, efeitos adversos e dificuldades de acesso à rede de saúde.


Mesmo sendo evitável, a transmissão vertical ainda ocorre no estado. A prevenção depende da testagem no pré-natal, do uso correto dos antirretrovirais para alcançar carga viral indetectável (Intransmissível (I=I): Pessoas com carga viral indetectável não transmitem HIV por via sexual) e do acompanhamento do recém-nascido. Embora elevada, a taxa de testagem não é universal, devido ao número de gestantes que não realizam pré-natal ou iniciam o acompanhamento tardiamente.


No interior, o cenário também exige acompanhamento atento. Em Cachoeira do Sul, os registros seguem a tendência estadual e revelam a persistência de novos casos ano após ano.


Município acumulou 573 casos até 2012 e apresenta registros anuais que variam entre 13 e 47 nos anos subsequentes. Crédito: Indicadores Aids - Consulta em 26 de novembro de 2025.
Município acumulou 573 casos até 2012 e apresenta registros anuais que variam entre 13 e 47 nos anos subsequentes. Crédito: Indicadores Aids - Consulta em 26 de novembro de 2025.


Jovens concentram maior parte das novas infecções


O grupo de 15 a 34 anos reúne a maioria dos novos casos no estado. A especialista avalia que a baixa percepção de risco contribui para a não adesão às medidas preventivas, como preservativos, PrEP (Profilaxia pré-exposição, uso contínuo de antirretrovirais para prevenir a infecção), PEP (Profilaxia pós-exposição, tratamento iniciado em até 72 horas após possível contato com o vírus) e testagem regular. A falta de educação sexual e a circulação de informações distorcidas agravam a vulnerabilidade desse público.


Para enfrentar esse cenário, Ana Flor defende políticas públicas integradas, envolvendo saúde e educação, voltadas especialmente para jovens.


Coinfecções agravam o quadro epidemiológico


Sífilis e hepatites seguem com altas taxas no Rio Grande do Sul e frequentemente se sobrepõem ao HIV, devido à mesma via de transmissão. As coinfecções aumentam o risco de complicações oculares e neurológicas da sífilis e aceleram a progressão das hepatites virais, elevando a incidência de cirrose e carcinoma hepatocelular entre pessoas vivendo com HIV.


A infectologista ressalta que a resistência à testagem, motivada pelo medo do diagnóstico, desinformação e estigma, permanece como um dos maiores obstáculos ao controle da epidemia.


Desafios e perspectivas


O Ministério da Saúde busca eliminar o HIV e a Aids como problema de saúde pública até 2030. Para que o estado avance nessa direção, será necessário ampliar ações integradas entre governo e sociedade.


O país registra 1,165 milhão de casos de Aids, 392 mil óbitos e 770 mil pessoas em tratamento. Estimativa aponta que 100 mil brasileiros não sabem que vivem com HIV.
O país registra 1,165 milhão de casos de Aids, 392 mil óbitos e 770 mil pessoas em tratamento. Estimativa aponta que 100 mil brasileiros não sabem que vivem com HIV.

Entre os programas considerados promissores pela infectologista estão iniciativas como “A Hora é Agora”, da Fiocruz, que garante testagem e início imediato do tratamento; o “TARV delivery”, que entrega medicação em domicílio; e a expansão dos autotestes e da PrEP em espaços além dos serviços de saúde.


Em sua avaliação final, Ana Flor reforçou a necessidade de superar o estigma: “Enquanto o HIV for visto como uma doença dos ‘outros’, não avançaremos na meta de eliminação.”

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